O Samba de Véio da Ilha do Massangano, localizado em Petrolina
(PE), é uma das expressões culturais mais autênticas e tradicionais do
sertão nordestino, com raízes afro-brasileiras e forte ligação com as
comunidades ribeirinhas do Rio São Francisco. Dissertar sobre esse samba
envolve entender não apenas a manifestação musical e dançante, mas também o
contexto social, histórico e espiritual que o sustenta.
As letras dos sambas, geralmente são de cunho histórico,
politizadora, ou sarcástica. Entre tantas, a minha predileta certamente é
" Coisa Bonita"; cantada por dona Amélia os versos
questionam de modo sutil a relação entre o agricultor e o sistema
capitalista.
A música em si não faz muita diferença nas questões educacionais, mas a sua produção é carregada de elementos pedagógicos, ninguém nunca faz um samba sozinho, há sempre alguém que parte com uma ideia, mas a produção sempre é coletiva; geralmente reunem-se no quintal de Dona Amélia os tocadores, no caso os tamboreteiros, Seu Manoel é o mais frequente por ser vizinho de D. Amélia, e as 'mulheres do samba', cada uma traz as suas composições, e entre cantaroladas e gargalhadas escolhem as melhores; sempre com o aval final de Dona Amélia. Vejo que sempre há crianças em torno das rodas de samba, os adolescentes raramente aparecem, mas as crianças se interessam muito. O aprendizado então surge do olhar, da vivência, do contato direto com o mundo do samba, algo que não é imposto, mas desejado, as crianças amam sambar, acompanham o samba todo o mês de Janeiro, cantam, sambam (muito bem por sinal) e arriscam tocar um instrumento ou outro. "O samba nunca vai morrer, olha só o tanto de menino que acompanha, eles tem mais fôlego que nós para acompanhar o samba" diz D. Amélia em umas das noites que eu acompanhei o reisado na Ilha.

