Nos dias atuais muitas pessoas, apesar do número de campanhas e estudos desenvolvidos principalmente pelos movimentos negros do Brasil, ainda têm em suas entranhas a mania de disseminar o preconceito racial. Notando a presença desse mal na sociedade brasileira, nasce o Coletivo “ERÊ”. De imediato torna-se necessário explicar a escolha da sigla que acompanha o grupo, que é representada através da imagem e da logomarca presente nas plataformas digitais do coletivo. A palavra ERÊ foi escolhida, por trazer as iniciais do nosso nome "Estudos das Relações Étnicas", mas também por ter como significado "brincar" na língua Iorubá, a qual também faz referência a seres espirituais infantis em religiões de matriz africana.
Para além disso, se vocês notarem, em cima do acento circunflexo da palavra ERÊ possui um desenho de uma ave. Essa ave se chama Sankofa, é um ideograma adrinkra. A Sankofa é um pássaro africano de duas cabeças que, segundo a filosofia do povo Akan, significa “nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou atrás”. Em outras palavras, podemos compreender como o retorno ao passado para ressignificar o presente, respeitar e nos inspirar na força das nossas raízes, que nos trouxeram até aqui.
Um fato curioso, é que durante a colonização, essa ave se tornou um símbolo de resistência, pois os africanos escravizados que eram ferreiros esculpiam uma variação dessa ave nos portões, pois só eles conheciam sua simbologia (vejam na foto ao lado). Muito conhecido, esses portões antigos representam muita da nossa identidade enquanto país, e para além disso, nos fala sobre uma maneira que a população africana encontrou para perpetuar suas histórias, afetos, famílias, línguas e religião que foram cortadas quando sequestrados da África.
Ajudamos a construir esse país, infelizmente, pelo uso da violência e exploração, mas precisamos valorizar a memória dos nossos antepassados por esses feitos, para construir um futuro melhor para todos. O nosso objetivo enquanto coletivo é trazer essas e outras informações sobre a construção de identidade racial no Brasil e de Campo Formoso, pois acreditamos que a educação é a arma mais poderosa pra mudar a vida de uma pessoa, uma pessoa consciente de si e do seu lugar de valor, sonha alto e alcança muitos objetivos, levando muitas pessoas consigo também.
Num país onde mais da metade da população é etnicamente negra, considerando as múltiplas nuances de tom de pele, não devemos ser exceção quanto a riqueza e representação. Esperamos colaborar e sempre contar com vocês nos debates, para conscientizarmos, politizarmos e aprendermos, dando visibilidade e buscando a valorização dessa discussão dentro de Campo Formoso.
Por Thalita Evangelista e Renilson Silva.

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