“Nunca
é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou para trás”.
Nós do Coletivo Erê, nos apresentamos enquanto homens e mulheres negras diversas. A raça é lugar comum que perpassa a nossa ancestralidade e experiência na diáspora. Reconhecemos então, que todos nós poderíamos ser de uma mesma família. Nossos corpos cabem ali. Foi a partir dos sentidos aguçados que nos conectamos com essa compreensão.
A imagem é material que estimula
inúmeros sentidos em nós. Relembrando quais imagens ficaram às vistas da nossa
experiência no período de escravização que tentamos nos recompor a partir disto
e ampliar as imagens que temos em relação a nós mesmos, povo preto. Foi através
das fotografias e do estímulo emocional provocadas por elas que nós do Coletivo
Erê indicamos aqui neste texto o que irá resguardar nossas discussões sobre
identidade racial.
Já damos algumas dicas ao dizer que
buscamos respostas em Áfrika. Não como uma localização geográfica, mas como um
lugar que deve ser revisitado para “voltar e apanhar o que ficou para trás”
através da contação de história, do caminho da oralidade para recontar nossos
passos que vêm de longe.
Compreendemos
que, negros e negras, somos todas nós africanas e africanos em diáspora que
possuem na marca da pele, dos cabelos, dos traços negroides a herança genética
ancestral. Mas não só. Neuza Santos nos ajuda a entender e explicar a complexa
relação da identidade negra diaspórica.
Ser negro é [...]
tomar consciência do processo ideológico que, através de um discurso mítico
acerca de si, engendra uma estrutura de desconhecimento que o aprisiona numa
imagem alienada, na qual se reconhece. Ser negro é tomar posse dessa
consciência e criar uma nova consciência que reassegure o respeito às
diferenças e que reafirme uma dignidade alheia a qualquer nível de exploração.
Assim, ser negro não é uma condição dada, a priori. É um vir a ser. Ser negro é
tornar-se negro.
É
desta forma que reconhecemos que essa tomada de consciência se dá de forma
política. Enquanto coletivo atribuímos esse compromisso a nós, de contribuir na
interrupção do processo ideológico de alienação imposta a população negra. Este
compromisso é também um dos grandes desafios deste coletivo. Que reconhece que precisamos
alcançar nossos irmãos e irmãs pretas que não tiveram e nem tem as
oportunidades que nós tivemos, a custo de muita luta dos nossos, também.
Por
fim, Munanga já nos alertava sobre o fato de em todas as sociedades as
identidades serem construídas. Nós estamos em um processo de formatar e
autodefinir nossa identidade, desligando-se do olhar branco sobre os nossos
corpos negros. Estamos resgatando nossa herança faraônica, de reis e rainhas
que antecederam as violências da colonização.
Catarine Guimarães


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