quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Identidade Racial – buscando respostas em Áfrika

 

“Nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou para trás”.

 

           



Nós do Coletivo Erê, nos apresentamos enquanto homens e mulheres negras diversas. A raça é lugar comum que perpassa a nossa ancestralidade e experiência na diáspora. Reconhecemos então, que todos nós poderíamos ser de uma mesma família. Nossos corpos cabem ali. Foi a partir dos sentidos aguçados que nos conectamos com essa compreensão.

            A imagem é material que estimula inúmeros sentidos em nós. Relembrando quais imagens ficaram às vistas da nossa experiência no período de escravização que tentamos nos recompor a partir disto e ampliar as imagens que temos em relação a nós mesmos, povo preto. Foi através das fotografias e do estímulo emocional provocadas por elas que nós do Coletivo Erê indicamos aqui neste texto o que irá resguardar nossas discussões sobre identidade racial.

            Já damos algumas dicas ao dizer que buscamos respostas em Áfrika. Não como uma localização geográfica, mas como um lugar que deve ser revisitado para “voltar e apanhar o que ficou para trás” através da contação de história, do caminho da oralidade para recontar nossos passos que vêm de longe.

Compreendemos que, negros e negras, somos todas nós africanas e africanos em diáspora que possuem na marca da pele, dos cabelos, dos traços negroides a herança genética ancestral. Mas não só. Neuza Santos nos ajuda a entender e explicar a complexa relação da identidade negra diaspórica.

Ser negro é [...] tomar consciência do processo ideológico que, através de um discurso mítico acerca de si, engendra uma estrutura de desconhecimento que o aprisiona numa imagem alienada, na qual se reconhece. Ser negro é tomar posse dessa consciência e criar uma nova consciência que reassegure o respeito às diferenças e que reafirme uma dignidade alheia a qualquer nível de exploração. Assim, ser negro não é uma condição dada, a priori. É um vir a ser. Ser negro é tornar-se negro.

            É desta forma que reconhecemos que essa tomada de consciência se dá de forma política. Enquanto coletivo atribuímos esse compromisso a nós, de contribuir na interrupção do processo ideológico de alienação imposta a população negra. Este compromisso é também um dos grandes desafios deste coletivo. Que reconhece que precisamos alcançar nossos irmãos e irmãs pretas que não tiveram e nem tem as oportunidades que nós tivemos, a custo de muita luta dos nossos, também.

Por fim, Munanga já nos alertava sobre o fato de em todas as sociedades as identidades serem construídas. Nós estamos em um processo de formatar e autodefinir nossa identidade, desligando-se do olhar branco sobre os nossos corpos negros. Estamos resgatando nossa herança faraônica, de reis e rainhas que antecederam as violências da colonização.  

Catarine Guimarães



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